Para
exemplificar essa diversidade linguística, analisaremos uma das letras do
cantor e compositor Zezinho Maranhão composta juntamente com Flávio Carneiro em
homenagem a cidade de Porto Velho e seus habitantes.
Ponho-me a ¹rir e ²rio quando o ³rio passa. Nessa
primeira estância a palavra rio apresenta a grafia igual, mas sentidos diferentes.
No primeiro ¹rir (latim rideo, - ere), é um verbo, trata-se da manifestação do
riso, nessa parte o compositor mostra alegria ou divertimento = SORRIR. Na
segunda palavra rio² que apresenta a mesma grafia, o compositor quer transmitir na letra o sentido de achar graça a (ex.: rio quando...). E no terceiro
Zezinho refere-se ao próprio rio³ no sentido de rio como um curso de água natural. Nesse caso cabe destacar a importância do rio para a
cidade de Porto Velho, o rio Madeira que banha a cidade, abriga espécies de
mamíferos aquáticos únicos da Amazônia, como o boto tucuxi e o peixe-boi, mas a
importância do rio não esta ligada somente a diversidades de peixes, o rio é
uma hidrovia natural que impulsiona a economia do estado, e da cidade em particular,
pois é através dele que se fazem as viagens até Manaus e Belém, sem falar que
nas margens do rio existe também população ribeirinha. O rio simboliza a
própria história e criação da cidade de Porto Velho que começa com a descoberta
de cassiterita (minério de estanho) nos velhos seringais no final dos anos 50,
e de ouro no rio Madeira.
Acho graça do balanço que ele faz. Nessa dicção o compositor
mostra contentamento ao movimento das águas, das ondas, do vai e vem que
representa o curso da vida, o cotidiano dos portovelhenses, demonstra graça no
sentido não de benevolência, mas como ato ou dito de quem sente alegra ao ver o “balanço”
que o faz rir.
A correnteza é bailarina. Nessa frase a linguagem de Zezinho
ao fazer uma cooptação entre a correnteza a bailarina
(mulher que dança por profissão) transmite-nos o sentido de movimento das águas
do rio serem em movimento de dança, as ondas se movem artisticamente, nesse
caso a correnteza assim como a bailarina, não é fixa, mas sim oscilatória, que
balança, brande.
O leito é praça. O leito refere-se à cama, onde o individuo
descansa, repousa depois de um dia cansativo, nesse caso ele atribui a praça o
mesmo sentido, quem se reúne na praça da cidade, descansa, estar na praça é
sinônimo de repouso e algo necessário.
A dança é água que penetra. Acontece uma correlação entre a
dança e a água, pois assim como a água a dança chegar ao íntimo de, tocar
profundamente o indivíduo em contato com a dança, o ritmo, a melodia.
Clara no cais. Dando continuidade a água como dança que
penetra, aqui essa frase usa uma linguagem figurativa, e explicita a claridade
como algo sendo limpa, a água clara, transparente, assim como a dança, sem
rebuço, diante de todos, que se vê bem, que há no cais, no ponto de embarque e
desembarque nos portos, é uma água límpida e transparente.
Por entre arbustos e cipoais. A palavra arbusto é muito
usada na região, representa uma pequena árvore e cipoais, é derivado de cipó,
que é uma espécie de trepadeira.
Ah esse rio é demais. Expressão comum que significa que algo
é mais que bom, o mesmo que de mais, nesse caso o compositor atribui ao rio
qualidades alem dos rios comuns.
É de cristal é natural, é de manhã. Ainda referindo-se ao
rio, bem como às águas, trata-se de uma comparação entre o cristal, no sentido
figurado de limpidez, transparência, que assim como as manhãs tem um
brilho suave como os raios de sol que raiam de manhã cedo, o período de tempo
entre o amanhecer e o meio-dia.
Cunhã. Abreviatura de cunhatã, que significa menina.
Canto nele seu encanto mágico. Sobre o rio esta frase
transcreve a ação do cantor estar cantando as magias que rio possui, o seu
encanto, uma introdução a próxima estrofe onde se dá um sentido mais concreto
ao rio e não mais simbólico.
É fato e farto é o alimento que ele dá. Sobre o rio, essa
estrofe menciona o fato como uma coisa realizada, um acontecimento no sentido
de ser verdade que o rio fornece alimentos a população e todos sabem que o rio
fornece uma fartura em alimentos, aqui há o
sentido abundância excessiva de peixes.
Não quer espúrio nem mercúrio. A palavras espúrio significa
que não tem pai certo ou que não pode ser perfilhado (ex.: filho espúrio). =
BASTARDO, ILEGÍTIMO, mercúrio é um elemento químico (símbolo Hg), de número atômico
80, que constitui um corpo metálico líquido que se solidifica aos 40º
negativos, mas em outro sentido mercúrio exprime o sentido de “Medianeiro”,
alguém que é intermediário em assuntos de amor.
Que a pesca no seu tempo. Assim como tudo na vida existe um
tempo determinado, na pesca acontece o mesmo, e para isso alem de esperar a época certa de pesca, a estrofe dá um sentido figurativo ao tempo e
faz uma correlação com a dança na estrofe a seguir.
Tá atento aguardando pra dançar. Nesse caso, o tempo está
aguardando para dançar, assim, nota-se uma correlação coma estrofe anterior, a
pesca é comparada a dança e aguardam o tempo para acontecer.
O tempo todo movimento de menina. Aqui há uma referencia ao
movimento populacional de meninas pelos arredores da cidade, indivíduos do sexo
feminino que vem e vão movimentando-se de um lugar a outro.
Dançarina que baila na escadaria. Acredita-se que aqui há uma
menção da bailarina da praça, Elielza Bailarina Ramos Freire é um personagem
querido e folclórico da cidade que dança pelas escadarias da praça do palácio
do governo, onde essa dançarina típica da região faz performances de danças.
Se for de noite é poesia e se é de dia. Refere-se ao clima
da cidade no sentido de que durante a noite a cidade de Porto Velho é tem uma
composição poética pouco extensa, ou seja a noite é curta, porém desperta o
sentimento do belo.
O sol é luz nessa peleja cunhatã. Há nessa estrofe uma
analogia ao sol, que se transforma em luz que, iluminando os objetos os torna
visíveis para mais um dia de peleja não mais no sentido de cunhatã “menina”,
mas sim de peleja comum entre os jovens portovelhenses.
Nesse curso correm duas curvas. Fala sobre as duas curvas
que o Rio Madeira faz ainda nos limites da cidade de Porto Velho.
As tuas cores do mato afã. Aqui fala sobre as cores do Rio
que assim como o mato afã, significa que as cores incentivam, impulsionam o
desejo, ânsia, vontade de conseguir algo.
Teu pêlo folha do pé de açaizeiro. Faz uma analogia ao pelo
e folha de açaí, fruta comum da região norte, uma espécie de palmeira.
O seio anatomia do biriba. Refere-se ao seio do rio, que
supostamente possui um formato igual ao biriba, folhas lanceoladas, oblongas, e
com carpelos salientes.
Gira no corpo como peixe¹ e matrinxã². Essa frase refere-se
à dança, pois faz o corpo girar assim como peixe (¹movimento feito pelos peixes
de modo geral), gira por entre as águas do rio, e faz uma referencia a um peixe
especifico: o matrinxã² uma espécie de peixe de escamas, coloração prateada,
corpo alongado, encontrado nas bacias amazônicas.
O rio colo o corpo é lado. Esse tipo de linguagem é muito
comum na região norte, aqui o rio é comparado a uma passagem entre montes ou
elevações de terreno, geralmente mais larga que o desfiladeiro = COLADA. Aqui
houve o uso de duas palavras separadas, mas que juntas possuem um significado,
sendo este relacionado à dança, na ação de dançar colada, a intenção do
compositor está ligada a rima e não à linguagem em si.
Metodologia
Através
de pesquisa bibliográfica busca-se propor uma analise das pesquisas realizadas,
abordando especificamente a cultura da cidade de Porto Velho, sendo esta de
cunho qualitativo com base em considerações feitas por Gesssi Taborda, preconceitos
linguistico Marcos Bagno, “A dança e o rio” de Zezinho Maranhão e Flávio
Carneiro.
Considerações Finais
A
letra da música “A dança e o rio” de Zezinho Maranhão e Flávio Carneiro é rica
em diversidade cultural, ela traz em sua letra características culturais sobre
a cidade de Porto Velho, sobre a hidrografia, sobre a dança, sobre a terra,
sobre peixes comuns da região, frutos que são a distintiva dessa cidade pelo
Brasil afora, alem de uma abordagem do cotidiano comum dos portovelhenses.
Zezinho Maranhão é muito criativo, talentoso e conhece muito bem a cidade e
suas peculiaridades, como a noite, o potencial turísticos, a população que
habita aqui.
A
letra dessa música tem um significado sociocultural importantíssimo para Porto
Velho, assim como uma grande variedade sociolinguista que traz em muitas
palavras expressões corriqueiras da população portovelhense, linguagem essa que
está presente na vida das pessoas que moram nessa cidade, e na vida de quem
veio para cá e acaba conectando-se aos dialetos, expressões e real sentido da
linguagem popular de Porto Velho.
Zezinho
Maranhão é uma personalidade muito importante para essa cidade, para a cultura,
não só pela música, mas pela composição, pelo respeito que tem pela cidade e
por ser uma referência no âmbito de artista regional, sua música é autêntica,
ultrapassa as fronteiras do regionalismo, buscando a universalidade de seus
poemas e sons. Com uma produção cultural otimista, amorosa e alto astral,
Zezinho Maranhão, encanta com suas canções. Além de emprestar sua voz
sofisticada aveludada à composição de artistas de renome.
Referências
SCHERE, Maria. O idioma, a elite e o preconceito.
Contra ponto: Brasília: 1995.
TABORDA, Gessi. Um diamante
chamado Zezinho. Disponível em: http://www.enter-net.com.br/rol/ENTREVI/ZEZINHO.HTM
Acesso em 2 de junho, 2012 ás 14: 04.
AMARAL, Nair. A variação nos falares de Porto Velho.
Universidade Federal de Rondônia. 1999.
XIMENES, Marcela. O portovelhês
nosso de cada dia. O ver o mundo: 2007. Disponível em: http://www.overmundo.com.br/overblog/o-portovelhes-nosso-de-cada-dia.
Acesso em 04 de junho, 2012 às 16: 03.
BRASIL, Dicionário Priberan. Dicionário de Língua português online. Priberan Pt: 2012. Disponível
em: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=colo.
Acesso em: 06 de junho, 2012 ás 14: 47.
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