' '' Analise sociolinguista da letra “A dança e o rio” de Zezinho Maranhão e Flávio Carneiro | PROF VAL BARRETO - CANDIDATA A VEREADORA DE PORTO VELHO!

17 setembro 2012

Analise sociolinguista da letra “A dança e o rio” de Zezinho Maranhão e Flávio Carneiro

 


Para exemplificar essa diversidade linguística, analisaremos uma das letras do cantor e compositor Zezinho Maranhão composta juntamente com Flávio Carneiro em homenagem a cidade de Porto Velho e seus habitantes.

Ponho-me a ¹rir e ²rio quando o ³rio passa. Nessa primeira estância a palavra rio apresenta a grafia igual, mas sentidos diferentes. No primeiro ¹rir (latim rideo, - ere), é um verbo, trata-se da manifestação do riso, nessa parte o compositor mostra alegria ou divertimento = SORRIR. Na segunda palavra rio² que apresenta a mesma grafia, o compositor quer transmitir na letra o sentido de achar graça a (ex.: rio quando...). E no terceiro Zezinho refere-se ao próprio rio³ no sentido de rio como um  curso de água natural. Nesse caso cabe destacar a importância do rio para a cidade de Porto Velho, o rio Madeira que banha a cidade, abriga espécies de mamíferos aquáticos únicos da Amazônia, como o boto tucuxi e o peixe-boi, mas a importância do rio não esta ligada somente a diversidades de peixes, o rio é uma hidrovia natural que impulsiona a economia do estado, e da cidade em particular, pois é através dele que se fazem as viagens até Manaus e Belém, sem falar que nas margens do rio existe também população ribeirinha. O rio simboliza a própria história e criação da cidade de Porto Velho que começa com a descoberta de cassiterita (minério de estanho) nos velhos seringais no final dos anos 50, e de ouro no rio Madeira.

Acho graça do balanço que ele faz. Nessa dicção o compositor mostra contentamento ao movimento das águas, das ondas, do vai e vem que representa o curso da vida, o cotidiano dos portovelhenses, demonstra graça no sentido não de benevolência, mas como ato ou dito de quem sente alegra ao ver o “balanço” que o faz rir.

A correnteza é bailarina. Nessa frase a linguagem de Zezinho ao fazer uma cooptação entre a correnteza a bailarina (mulher que dança por profissão) transmite-nos o sentido de movimento das águas do rio serem em movimento de dança, as ondas se movem artisticamente, nesse caso a correnteza assim como a bailarina, não é fixa, mas sim oscilatória, que balança, brande.

O leito é praça. O leito refere-se à cama, onde o individuo descansa, repousa depois de um dia cansativo, nesse caso ele atribui a praça o mesmo sentido, quem se reúne na praça da cidade, descansa, estar na praça é sinônimo de repouso e algo necessário.

A dança é água que penetra. Acontece uma correlação entre a dança e a água, pois assim como a água a dança chegar ao íntimo de, tocar profundamente o indivíduo em contato com a dança, o ritmo, a melodia.

Clara no cais. Dando continuidade a água como dança que penetra, aqui essa frase usa uma linguagem figurativa, e explicita a claridade como algo sendo limpa, a água clara, transparente, assim como a dança, sem rebuço, diante de todos, que se vê bem, que há no cais, no ponto de embarque e desembarque nos portos, é uma água límpida e transparente.

Por entre arbustos e cipoais. A palavra arbusto é muito usada na região, representa uma pequena árvore e cipoais, é derivado de cipó, que é uma espécie de trepadeira.

Ah esse rio é demais. Expressão comum que significa que algo é mais que bom, o mesmo que de mais, nesse caso o compositor atribui ao rio qualidades alem dos rios comuns.

É de cristal é natural, é de manhã. Ainda referindo-se ao rio, bem como às águas, trata-se de uma comparação entre o cristal, no sentido figurado de limpidez, transparência, que assim como as manhãs tem um brilho suave como os raios de sol que raiam de manhã cedo, o período de tempo entre o amanhecer e o meio-dia.

Cunhã. Abreviatura de cunhatã, que significa menina.

Canto nele seu encanto mágico. Sobre o rio esta frase transcreve a ação do cantor estar cantando as magias que rio possui, o seu encanto, uma introdução a próxima estrofe onde se dá um sentido mais concreto ao rio e não mais simbólico.

É fato e farto é o alimento que ele dá. Sobre o rio, essa estrofe menciona o fato como uma coisa realizada, um acontecimento no sentido de ser verdade que o rio fornece alimentos a população e todos sabem que o rio fornece uma fartura em alimentos, aqui há o sentido abundância excessiva de peixes.

Não quer espúrio nem mercúrio. A palavras espúrio significa que não tem pai certo ou que não pode ser perfilhado (ex.: filho espúrio). = BASTARDO, ILEGÍTIMO, mercúrio é um elemento químico (símbolo Hg), de número atômico 80, que constitui um corpo metálico líquido que se solidifica aos 40º negativos, mas em outro sentido mercúrio exprime o sentido de “Medianeiro”, alguém que é intermediário em assuntos de amor.

Que a pesca no seu tempo. Assim como tudo na vida existe um tempo determinado, na pesca acontece o mesmo, e para isso alem de esperar a época certa de pesca, a  estrofe dá um sentido figurativo ao tempo e faz uma correlação com a dança na estrofe a seguir.

Tá atento aguardando pra dançar. Nesse caso, o tempo está aguardando para dançar, assim, nota-se uma correlação coma estrofe anterior, a pesca é comparada a dança e aguardam o tempo para acontecer.

O tempo todo movimento de menina. Aqui há uma referencia ao movimento populacional de meninas pelos arredores da cidade, indivíduos do sexo feminino que vem e vão movimentando-se de um lugar a outro.

Dançarina que baila na escadaria. Acredita-se que aqui há uma menção da bailarina da praça, Elielza Bailarina Ramos Freire é um personagem querido e folclórico da cidade que dança pelas escadarias da praça do palácio do governo, onde essa dançarina típica da região faz performances de danças.

Se for de noite é poesia e se é de dia. Refere-se ao clima da cidade no sentido de que durante a noite a cidade de Porto Velho é tem uma composição poética pouco extensa, ou seja a noite é curta, porém desperta o sentimento do belo.

O sol é luz nessa peleja cunhatã. Há nessa estrofe uma analogia ao sol, que se transforma em luz que, iluminando os objetos os torna visíveis para mais um dia de peleja não mais no sentido de cunhatã “menina”, mas sim de peleja comum entre os jovens portovelhenses.

Nesse curso correm duas curvas. Fala sobre as duas curvas que o Rio Madeira faz ainda nos limites da cidade de Porto Velho.

As tuas cores do mato afã. Aqui fala sobre as cores do Rio que assim como o mato afã, significa que as cores incentivam, impulsionam o desejo, ânsia, vontade de conseguir algo.

Teu pêlo folha do pé de açaizeiro. Faz uma analogia ao pelo e folha de açaí, fruta comum da região norte, uma espécie de palmeira.

O seio anatomia do biriba. Refere-se ao seio do rio, que supostamente possui um formato igual ao biriba, folhas lanceoladas, oblongas, e com carpelos salientes.

Gira no corpo como peixe¹ e matrinxã². Essa frase refere-se à dança, pois faz o corpo girar assim como peixe (¹movimento feito pelos peixes de modo geral), gira por entre as águas do rio, e faz uma referencia a um peixe especifico: o matrinxã² uma espécie de peixe de escamas, coloração prateada, corpo alongado, encontrado nas bacias amazônicas.

O rio colo o corpo é lado. Esse tipo de linguagem é muito comum na região norte, aqui o rio é comparado a uma passagem entre montes ou elevações de terreno, geralmente mais larga que o desfiladeiro = COLADA. Aqui houve o uso de duas palavras separadas, mas que juntas possuem um significado, sendo este relacionado à dança, na ação de dançar colada, a intenção do compositor está ligada a rima e não à linguagem em si.
                  
Metodologia

            Através de pesquisa bibliográfica busca-se propor uma analise das pesquisas realizadas, abordando especificamente a cultura da cidade de Porto Velho, sendo esta de cunho qualitativo com base em considerações feitas por Gesssi Taborda, preconceitos linguistico Marcos Bagno, “A dança e o rio” de Zezinho Maranhão e Flávio Carneiro.

Considerações Finais

            A letra da música “A dança e o rio” de Zezinho Maranhão e Flávio Carneiro é rica em diversidade cultural, ela traz em sua letra características culturais sobre a cidade de Porto Velho, sobre a hidrografia, sobre a dança, sobre a terra, sobre peixes comuns da região, frutos que são a distintiva dessa cidade pelo Brasil afora, alem de uma abordagem do cotidiano comum dos portovelhenses. Zezinho Maranhão é muito criativo, talentoso e conhece muito bem a cidade e suas peculiaridades, como a noite, o potencial turísticos, a população que habita aqui.
            A letra dessa música tem um significado sociocultural importantíssimo para Porto Velho, assim como uma grande variedade sociolinguista que traz em muitas palavras expressões corriqueiras da população portovelhense, linguagem essa que está presente na vida das pessoas que moram nessa cidade, e na vida de quem veio para cá e acaba conectando-se aos dialetos, expressões e real sentido da linguagem popular de Porto Velho.
            Zezinho Maranhão é uma personalidade muito importante para essa cidade, para a cultura, não só pela música, mas pela composição, pelo respeito que tem pela cidade e por ser uma referência no âmbito de artista regional, sua música é autêntica, ultrapassa as fronteiras do regionalismo, buscando a universalidade de seus poemas e sons. Com uma produção cultural otimista, amorosa e alto astral, Zezinho Maranhão, encanta com suas canções. Além de emprestar sua voz sofisticada aveludada à composição de artistas de renome.


Referências


SCHERE, Maria. O idioma, a elite e o preconceito. Contra ponto: Brasília: 1995.


TABORDA, Gessi. Um diamante chamado Zezinho. Disponível em: http://www.enter-net.com.br/rol/ENTREVI/ZEZINHO.HTM Acesso em 2 de junho, 2012 ás 14: 04.


AMARAL, Nair. A variação nos falares de Porto Velho. Universidade Federal de Rondônia. 1999.


XIMENES, Marcela. O portovelhês nosso de cada dia. O ver o mundo: 2007. Disponível em: http://www.overmundo.com.br/overblog/o-portovelhes-nosso-de-cada-dia. Acesso em 04 de junho, 2012 às 16: 03.


BRASIL, Dicionário Priberan. Dicionário de Língua português online. Priberan Pt: 2012. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=colo. Acesso em: 06 de junho, 2012 ás 14: 47.

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