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12 novembro 2013

Convivência democrática e educação x realidade da sala de aula


CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA E EDUCAÇÃO: A CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES E ESPAÇOS DEMOCRÁTICOS NO ÂMBITO ESCOLAR

Segundo a autora Valéria Amorim (2007, p. 59) o texto referente a temática acima pretende promover reflexões e apontar caminhos pedagógicos para a construção de relações interpessoais democráticas no convívio escolar, porém a autora ressalta que essas resoluções tem sua base no diálogo e na resolução pacífica de conflitos. O texto busca descrever possíveis condições para a construção de valores democráticos que auxiliem na transformação das relações sociais, de forma a atingirmos a justiça social e o aprendizado da participação cidadã nos destinos da sociedade.


     A partir disso, esta analise será comparativa, pois pretende confrontar as ideias da autora com a realidade observada em sala de aula pelo acadêmico de Pedagogia durante observação em campo de estágio curricular supervisionado vivenciado durante a graduação, porém a realidade da sala de aula deixa essas ideias ainda mais intangíveis se analisada comparativamente por um professor que já exerce a função e conhece a vivência democrática e suas relações com o espaço escolar.


COMPARAÇÃO ENTRE AS IDEIAS DE ¹VALÉRIA AMORIM ARANTES E A REALIDADE OBSERVADA EM CAMPO DE ESTÁGIO

            A autora Valéria Amorim, (2007, p. 59), inicia a discussão do tema reportando-se a uma citação de Ashley Montagu (1978), “nenhum ser humano nasce com impulsos agressivos ou hostis e nenhum se torna agressivo ou hostil sem aprendê-lo” esse ponto de vista, por sua vez, é totalmente aceito e uma boa escolha para propor a discussão de um tema tão abrangente, afinal umas das primeiras concepções que devemos ter em mente é que o ser humano como ser social sofre influencia do meio em que vive, nesse caso, ninguém escolhe relacionar-se de forma conflitante, a sociedade é quem impõe esse conflito por meio de sistemas de interesses diversos, nesse caso, analisaremos os

¹ Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Autora do texto “Convivência democrática e educação: a construção de relações e espaços democráticos no âmbito escolar”.
conflitos que ocorrem no âmbito escolar com respeito às vivências, as relações e a resolução desses conflitos de forma dialética e tranquila.

A resolução de conflitos como ferramenta de constituição psicológica e social
           
            Entender a existência dos conflitos como um processo natural de cada indivíduo é o primeiro passo para estabelecer relações, afinal, como enfatiza a autora, cada pessoa é construída com outra, seja de forma direta ou a partir da vivência, é desse modo que percebemos a existência da grande diversidade e distintas relações existentes entre os seres humanos.

O conflito é uma parte natural de nossas vidas. A maioria das teorias interacionistas em filosofia, psicologia e educação está alicerçada no pressuposto de que nos constituímos e somos constituídos, a partir da relação direta ou mediada com o outro. Nessa relação, nos deparamos com as diferenças e semelhanças que nos obrigam a comparar, descobrir, ressignificar, compreender, agir, buscar alternativas e refletir sobre nós mesmos e sobre os demais. O conflito torna-se, portanto, a matéria-prima para nossa constituição psíquica, cognitiva, afetiva, ideológica e social. (AMORIM, 2007, p. 59).


            Dessa forma se existem grandes diferenças de um indivíduo para o outro, a comparação entre essas peculiaridades acaba acontecendo, e não só sob esse olhar, mas também na busca de entender outros significados, as ações e principalmente a reflexão sobre todos os envolvidos, assim o conflito é algo normal e comum no cotidiano.  O diferencial, no entanto, está na resolução desse conflito que se mostra muitas vezes algo cansativo, pois para compreender, descobrir, ressignificar, é preciso que nossas ideias sejam deixadas de lado durante a resolução, porém durante campo de estágio percebemos que existem grandes contradições sobre essa perceptiva. 

            O quadro abaixo representa como deveria ser a resolução satisfatória de um conflito e como tem sido observada na sala de aula:

Ilustração 2: Postura ideal X postura usual
POSTURA IDEAL PARA RESOLUÇÃO DE CONFLITO
POSTURA USUAL PARA
RESOLUÇÃO DE CONFLITO
Afastamento do próprio ponto de vista;
Aproximação do seu ponto de vista como verdade absoluta;
Contemplação de outros pontos de vista diferentes;
Recusa a ver outros pontos de vista diferentes;
Pontos de vistas opostos aos nossos.
Aceitação somente aos próprios pontos de vista.
Autora: Valdineia Barreto, 2013.2. Fonte: Elaboração própria.

Essa postura, todavia, acontece parcialmente no espaço escolar, e a resolução desses conflitos exige muito criatividade “Exige-nos, ainda, a elaboração de fusões criativas entre os diferentes pontos de vista. Tal processo implica, necessariamente, operações de reciprocidade e síntese entre as diferenças”. (AMORIM, 2007, p. 60).

Ilustração 3: Sínteses das ações ideais e usuais

Autora: Valdineia Barreto, 2013.2. Fonte: Elaboração própria.


            A ideia propagada no texto mostra qual seriam as sínteses que permitem que os conflitos requerem para serem resolvidos de maneira satisfatória para os envolvidos, porém como afirma a autora Valéria Amorim (2007, p. 60), “Tudo isso requer um processo de aprendizagem que nosso sistema educativo parece não contemplar”.
            A formação acessível durante a graduação visa à construção de valores de democracia e de cidadania, assim obviamente, não pode ignorar os conflitos pessoais e sociais vividos pelas pessoas envolvidas, isso faz surgir o seguinte o questionamento: Será que os cursos de graduação não preparam o futuro pedagogo para trabalhar a democracia e cidadania, ou estes durante a saída da instituição de Ensino e ingresso no sistema escolar não valorizam as relações interpessoais e optam por lidar com esses conflitos de forma que a o respeito a diferença de um indivíduo para o outro, norteie suas ações?
            Após analisar essa perspectiva, faz-se necessária a compreensões de  novos paradigmas que surgem propondo a resolução desses conflitos, porém, nesse caso, essas ações se baseiam na comunicação e em práticas discursivas capazes de transformar o espaço escolar.

Tais propostas rechaçam a ideia de que em um conflito sempre há ganhadores e perdedores e defendem a construção de interesses comuns e uma coparticipação responsável. Incrementando o diálogo e a participação coletiva em decisões e acordos participativos. (AMORIM, 2007, p. 21).


            A partir dessa analise, vejamos o que essas propostas permitem caso sejam adotadas durante a prática cotidiana no espaço escolar e nas relações com o meio:

Ilustração 4: Contribuições de propostas
Autora: Valdineia Barreto, 2013.2. Fonte: Elaboração própria.

            Os conflitos são um mal necessário, e não podem ser visto na sociedade de forma negativa, nem como algo que levará o ser humano a destruição, em alguns casos o conflitos ao invés de ser solucionado deve deixar de existir, “[...], por exemplo, entre dois irmãos, ou entre duas irmãs, a conduta do pai ou da mãe, normalmente, contempla a ideia de que o extinguir é a melhor forma de resolvê-lo”. (AMORIM, 2007, p. 62). No sentido proposto pela autora, significa que o melhor é que façam “as pazes” e voltem a ser amigos (as), como eram antes de ocorrer esse conflito, “Em suma, o conflito é visto como algo desnecessário, que viola as normas sociais e que, portanto, deve ser evitado” (AMORIM, 2007, p. 62).
            Durante observação em campo de estágio percebemos que o currículo escolar, por exemplo, que conforme cita a autora encoraja a uma reorganização para trabalhar esse currículo, mostra-se muitas vezes apenas como um discurso, mas na prática, os conteúdos transversais, por si só não, se trabalhem os conflitos vividos no cotidiano.

Resumindo, com este tipo de proposta educacional, a escola entende que, da mesma forma que os estudantes aprendem a somar, a conhecer a natureza e a se apropriar da escrita, é fundamental para suas vidas que conheçam a si mesmos e a seus colegas, e as causas e consequências dos conflitos cotidianos. Trabalhando dessa maneira, por meio de situações que solicitem a resolução de conflitos, a educação atinge o duplo objetivo de preparar alunos e alunas para a vida cotidiana, ao mesmo tempo que não fragmenta as dimensões cognitiva e afetiva no trabalho com as disciplinas curriculares. (AMORIM, 2007, p. 63).

            Dessa forma é possível perceber que o objetivo da escola, não é somente que o aluno aprenda a somar, ler, escrever, interpretar, mas que essas aptidões façam sentido em seu dia-a-dia, e que ao deparo com situações que representem qualquer tipo de conflito, este possa atingir outro nível da educação, o nível que prepara o educando para a vida cotidiana.

 As assembleias escolares e o convívio democrático

            É um momento organizado para que alunos e alunas, professores e professoras possam falar das questões que lhes pareçam pertinentes para melhorar o trabalho e a convivência escolar, porém observou-se que na escola, não há um compartilhamento mais completo, a diferenças não são explicitadas ou trabalhadas regularmente, são estas feitas apenas parcialmente.

ÉTICA, CIDADANIA E EDUCAÇÃO: ESCOLA, DEMOCRACIA E CIDADANIA

             A discussão proposta pelos autores Lucia Helena Lodi¹ Ulisses F. Araújo² afirmam que aprender a ser cidadão e a ser cidadã requer que o individuo aprenda valores que sem os quais essa postura não seria possível. Será que de fato a escola ensina esses valores? Essa pergunta uma vez ou outra coloca alguns aspectos em que muda esse questionamento: será que é a escola que cabe ensinar esses valores?
            Existe uma longa discussão sobre as finalidades da educação, afinal umas das concepções que permeiam essa perspectiva é que a escola possui o dever de ensinar e não de educar, esta segunda tarefa é dever da família. Todavia, a responsabilidade pela formação de cidadãos críticos, reflexivos e participantes ativos em sociedade são deveres da escola, assim propomos a analise comparando o que o individuo deve aprender para se comprometer com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do país e como temos observado não só alguns comportamentos contrários, em sala de aula durante campo de estágio:
Ilustração 5: Aprendizagens e condutas comuns
Autora: Valdineia Barreto, 2013.2. Fonte: Elaboração própria.

¹Diretora do Departamento de Políticas do Ensino Médio – Ministério da Educação. ² Professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP Leste).
            Para que os estudantes possam aprender e assumir os princípios éticos, são necessários pelo menos dois fatores, (LODI apud ARAÚJO, p. 69).  Assim façamos a seguinte analise comparando esses dois fatores com a realidade observada na escola:

Ilustração 6: Princípios e suas finalidades
PRINCÍPIOS
FINALIDADES

Expressar em situações reais.
Para ter experiências que possam conviver com a sua prática.

Capacidade de autonomia moral.
Para adquirir a capacidade de analisar e eleger valores para si, consciente e livremente.
REALIDADE NA ESCOLA
Tanto os princípios, quanto as finalidades destes são desenvolvidas no âmbito escolar, apenas parcialmente.
Autora: Valdineia Barreto, 2013.2. Fonte: Elaboração própria.

            Um detalhe importante é que durante o ensino e aprendizagem, o indivíduo deve exercer papel ativo como sujeito da aprendizagem, sejam estudantes ou docentes, todos precisam compreender e interpretar o sentido que os conteúdos com os quais tem contato na escola. Aprender por quê? Para que? Para que serve esse conteúdo? Porque esse e não aquele assunto?
            Infelizmente, na realidade da escola, essa participação se dá de forma passiva, e nem sempre o aluno ou professor entende a finalidade de um ou de outro conteúdo, este é repassado aos alunos que não o associam a sua vivência ou sequer entendem o porquê deste lhe estar sendo proposto, muitas vezes a impressão que fica é que alguns conhecimentos são impostos, uma vez que o aluno não opta por obter ou não informações suficientes para compreender sua promoção:

 [...] a promoção de uma educação em valores deve partir de temáticas significativas do ponto de vista ético propiciando condições para que os alunos e as alunas desenvolvam sua capacidade dialógica, tomem consciência de seus próprios sentimentos e emoções (e dos sentimentos das demais pessoas) e desenvolvam a capacidade autônoma de tomada de decisão em situações conflitantes do ponto de vista ético/moral. (LODI apud ARAÚJO, p. 69). 

            Muito se fala em autonomia, mas o ensino proposto na sala deu aula, muitas vezes impede que esta se desenvolva, afinal ao invés de incentivar a criatividade, os conteúdos, assim como as atividades são apenas a efeito de memorização.
            Percebemos durante campo de estágio que alguns professores não adquirem ideias que os façam compreender o papel da escola na construção da democracia e da cidadania, isso de certa forma prejudica o aluno em seu processo de formação como cidadão. Vejamos alguns exemplos citados do livro: Educação: um tesouro a descobrir:

Ilustração 7: As ideias e a realidade na sala de aula.
IDEIAS
REALIDADE
As escolas devem evocar princípios como respeito mútuo, solidariedade, justiça e diálogo e em que os alunos e as alunas.
O espaço escolar muitas vezes representa um processo de exclusão, rejeição as diferenças, individualismo, violência, injustiças e sem respeito.
Os educadores devem sempre estar atentos à coerência entre o discurso e a ação: respeitar para ser respeitado, assumir e cumprir suas responsabilidades.
Não tem sido observada essa postura de maneira satisfatória. Alguns professores raramente vivem o que ensina, e nem sempre cumprem com sua função na sala de aula.
Participação dos estudantes na escola e na comunidade ajuda a formar seu caráter como cidadão e como cidadã.
Raramente acontece, ou observamos que esta se caracteriza como insuficiente para que o indivíduo participe mais ativamente.
Autora: Valdineia Barreto, 2013.2. Fonte: Elaboração própria.

3.1 O PROGRAMA ÉTICA E CIDADANIA

            Lodi apud Araújo (p. 69), o Programa Ética e Cidadania deve ser visto como um projeto pelo qual a comunidade escolar pode:

Iniciar, retomar ou aprofundar ações educativas que levem à formação ética e moral de todos os membros que atuam nas instituições escolares. Dessa forma, o trabalho com ética e cidadania nas escolas pressupõe intervenções focando quatro grandes eixos, ou módulos, independentes, mas com nítida inter-relação entre eles: Ética; Convivência democrática; Direitos Humanos; e Inclusão Social. (LODI apud ARAÚJO, p. 69). 


            Assim a moral e ética deve estar sempre ligada com todos os membros que atuam nas escolas e não somente na sala de aula.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS



MONTAGU, A. La naturaleza de la agresividad humana. Madrid: Alianza, 1978.

PUIG, J. M.; MARTÍN, X; ESCARDÍBUL, S; NOVELLA, A. Democracia e participação escolar: Propostas de atividades. São Paulo: Moderna, 2000.

Lodi, L.H; Araújo. U. F. Ética, cidadania e educação: escola, democracia e cidadania. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

BRASIL. Ética e cidadania: construindo valores na escola e na sociedade/Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.




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