Por Valdineia
Barreto Coelho¹
INTERDISCIPLINARIDADE
O
estudo teórico da Interdisciplinaridade tem motivado muitos pesquisadores a
investigar seus sentidos e sua importância no desenvolvimento do ensino-aprendizagem
em sala de aula, afinal, qualquer contribuição a construção do saber precisa
ser considerada. Antes de analisar a interdisciplinaridade, é preciso
compreender o sentido de “Disciplina”, para identificar a origem da
interdisciplinaridade e por fim, alguns conceitos de alguns estudiosos que
abordam a temática em questão.
ORIGEM
A disciplina é uma categoria
constituinte dos diversos campos do conhecimento que envolve a ciência. Para
melhor entender a noção de disciplina, é preciso contextualizar sua inserção no
campo do saber, ou seja, sua forma de organização.
Segundo
Morin (2002, p. 105):
A
organização disciplinar foi instituída no século XIX, notamente com a formação
das universidades modernas; desenvolveu-se, depois, no século XX, com o impulso
dado à pesquisa científica; isto significa que as disciplinas têm uma história:
nascimento, institucionalização, evolução, esgotamento, etc; essa história está
inscrita na da Universidade, que, por sua vez, está inscrita na história da
sociedade;
Portanto, a disciplina é uma
forma de organização e delimitação, é um conjunto de táticas organizacionais
que fluem de uma seleção conhecimentos preceituados, para só então serem
mediado aos alunos, neste caso, a interdisciplinaridade surge para apoiar um
conjunto de procedimentos didático-pedagógicos para o ensino-aprendizagem e
avaliação do desempenho do educando.
A interdisciplinaridade
chegou ao Brasil no final da década de 60, iniciando a década de 70, contudo, a
atenção era dada apenas pelas questões da definição do termo e sem conotação
com a prática, neste a interdisciplinaridade era apenas mais um slogan da
educação, um modismo, algo novo, mas que não era vivenciado na prática docente.
Sobre as primeiras discussões sobre
a interdisciplinaridade, Fortes (2010, p. 6) afirma que:
[...]
foram lançadas por Georges Gusdorf, em 1961 à UNESCO, que apresentou um projeto
de pesquisa interdisciplinar para as ciências humanas, no qual fizeram parte
alguns estudiosos de universidades européias e americanas, em diferentes áreas
de conhecimento. A proposta desse grupo era indicar as principais tendências de
pesquisa nas ciências humanas, no sentido de sistematizar a metodologia e os
enfoques das pesquisas realizadas pelos pesquisadores.
Contudo, a nível nacional, a
primeira produção significativa sobre a interdisciplinaridade no Brasil é de
Hilton Japiassu que nessa época, difundiu questionamentos importantes sobre a
interdisciplinaridade, o autor tentava elencar motivos para a prática da
interdisciplinaridade:
Nesse
sentido, tentaremos apresentar as principais motivações desse empreendimento,
bem como as justificações que poderão ser invocadas em seu favor. Tudo isso, no
contexto de uma epistemologia das ciências humanas, as voltas coma suas
“crises” e com seus impasses metodológicos. A resolução dessas crises coincide
pelo menos em parte, com os objetivos a que se propõe o método interdisciplinar
(JAPIASSU, 1976, p.53).
Percebe-se que Japiassu
chamava a atenção para a resolução das crises e confusões metodológicas e para
ele, a interdisciplinaridade era a solução para que esta crise fosse
solucionada.
Segundo Fortes (2010) outro trabalho
sobre a interdisciplinaridade contribuiu para o desenvolvimento da abordagem
interdisciplinar no Brasil, sobre este, o autor afirma que foi realizado em
1970:
[...] foi desenvolvido
por Ivani Fazenda como pesquisa de mestrado, que surgiu a partir de Japiassu e
estudos sobre interdisciplinaridade na Europa. Onde a autora permaneceu no seu
primeiro estudo, mais no trato dos aspectos relativos à conceituação do que à
metodologia (p. 6).
Na década de 80 ainda
existiam algumas dicotomias herdadas da década passada,
contudo, a história da educação precisava finalmente definir
pesquisas construtivas sobre a teoria/prática, verdade/erro, certeza/dúvida,
processo/produto, real/simbólico, ciência/arte e mais que isso, a refletir
sobre esses elementos.
Na década de 90 iniciou-se a
construção de uma nova epistemologia, a própria da interdisciplinaridade, em
busca de um projeto antropológico, ou seja,
a construção de uma teoria da interdisciplinaridade. Segundo Fazenda
(1999), os primeiros estudos das questões da interdisciplinaridade podem ser
divididos em três momentos, apresentados pela figura a seguir:
Figura
1. Três momentos que marcaram os primeiros estudos da interdisciplinaridade:
Fonte: Adaptado de Fazenda, 1999; Fortes,
2010.
Assim como a origem da
interdisciplinaridade, os conceitos também envolvem alta complexidade, contudo,
afinal o contexto histórico da interdisciplinaridade pode não ter o mesmo
sentido para todos, para um ou outro autor, podem haver semelhanças ou
basearem-se em ideias um pouco distintas.
CONCEITOS
Sabe-se que os estudos
envolvendo o conceito de interdisciplinaridade surgiram com os estudos da obra
de Georfes Gusdorfe, sendo estudado posteriormente por Piaget.
Segundo Andrade (2011) a Inter/Disciplinar/Idade
deriva da palavra primitiva DISCIPLINAR (que diz respeito à disciplina), por
prefixação (INTER-ação recíproca, comum) e sufixação (DADE - qualidade, estado
ou resultado da ação).
Para Japiassu a “interdisciplinaridade
caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau
de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa” (1976,
p. 74).
Segundo Fazenda (1993),
[...] o pensar
interdisciplinar parte do princípio de que nenhuma forma de conhecimento é em
si mesma racional. Tenta, pois, o diálogo com outras formas de conhecimento,
deixando-se interpenetrar por elas. Assim, por exemplo, aceita o conhecimento
do senso comum como válido, pois é através do cotidiano que damos sentido às
nossas vidas. Ampliado através do diálogo com o conhecimento científico, tende
a ser uma dimensão utópica e libertadora, pois permite enriquecer nossa relação
com o outro e com o mundo.
Neste caso, quando há comunicação
entre diversos conhecimentos há diálogo e dessa forma, todo saber é válido,
afinal, essa ideia valoriza o sentido que o dia a dia de cada sujeito na
sociedade é parte de um todo.
Deste modo, Ferreira (1993)
afirma que:
Apesar
de não possuir definição estanque, a interdisciplinaridade precisa ser
compreendida para não haver desvio na sua prática. A ideia é norteada por eixos
básicos como: a intenção, a humildade, a totalidade, o respeito pelo outro etc.
O que se caracteriza uma prática interdisciplinar é o sentimento intencional
que ela carrega. Não há interdisciplinaridade se não há intenção consciente,
clara e objetiva por parte daqueles que a praticam. Não havendo intenção de um
projeto, podemos dialogar, inter-relacionar e integrar sem, no entanto,
estarmos trabalhando interdisciplinarmente".
Pereira (2014) a interdisciplinaridade
pode ser entendida como:
A tentativa do homem
conhecer as interações entre mundo natural e a sociedade, criação humana e
natureza, e em formas e maneiras de captura da totalidade social, incluindo a
relação indivíduo/sociedade e a relação o entre indivíduos. Consiste, portanto,
em processos de interação entre conhecimento racional e conhecimento pensável,
e de integração entre saberes tão diferentes, e, ao mesmo tempo, indissociáveis
na produção de sentido da vida.
Portando, é importante o
professor conheça o conturbado contexto em que surgiu a interdisciplinaridade e
os diferentes conceitos que envolvem a ideia de interdisciplinaridade, afinal,
se ela é tão complexa teoricamente, a prática também se resguarda a grande
complexidade e considerando que o âmbito escolar envolve uma grande
diversidade, todo o contexto histórico, social e cultural deve ser considerado
antes da atuação interdisciplinar na sala de aula.
REFERÊNCIAS
ANDRADE,
Rosamaria Calaes de. Interdisciplinaridade:
Um novo paradigma curricular. Pará: UFPA, 2011. Disponível em: < http://www.ufpa.br/ensinofts/interdisci.html> Acesso
em: 13 de julho, 2015 às 17h18min.
FAZENDA,
Ivani Catarina, Arantes. Interdisciplinaridade:
definição, projetos, pesquisa. In: ____. Práticas interdisciplinares na escola.
2ed. São Paulo, Cortez, 1993 (p.15-18).
____.
Interdisciplinaridade: história,
teoria e pesquisa. 4 ed. Campinas: Papirus, 1999.
FERREIRA,
Sandra Lúcia. Introduzindo a noção de
interdisciplinaridade. In:___. Práticas interdisciplinaridades na escola. 2
ed. São Paulo, Cortez, 1993(P.33-35)
FORTES,
Clarissa Corrêa. Interdisciplinaridade: origem, conceito e valor. Minas Gerais:
UFSM, 2012. Disponível em: <http://www.pos.ajes.edu.br/arquivos/referencial_20120517101727.pdf>
Acesso em: 13 de julho, 2015 às 17h35min.
JAPIASSU,
Hilton. Interdisciplinaridade e
Patologia do saber. Rio de Janeiro:
Imago,
1976.
MORIN.
A cabeça bem feita. Repensar a
reforma repensar o pensamento. 6 ed.,
Rio
de janeiro: Bertrand Brasil ltda, 2002.
PEREIRA,
Isabel Brasil. Interdisciplinaridade.
São Paulo: Fio Cruz, 2014. Disponível em: < http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/int.html>
Acesso em: 13 de julho, 2015 às 17h27min.
COELHO,
Valdineia Barreto. Interdisciplinaridade:
Origem e Conceitos. Rondônia: Universo Pedagogia. Disponível em: <>
Acesso em: __/__/__ às 00h00min.
_______________________________________
¹
Artigo escrito por Valdineia Barreto Coelho – Graduada em Licenciatura Plena em
Pedagogia pela Faculdade Metropolitana | UNESSA, Porto Velho Rondônia. E-mail: valdineiabarreto2015@gmail.com.
SUGESTÃO DE REFERÊNCIAS:
COELHO,
Valdineia Barreto. Interdisciplinaridade:
Origem e Conceitos. Rondônia: Universo Pedagogia. Disponível em: <>
Acesso em: __/__/__ às 00h00min.
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