Artigo por Valdineia Barreto (@ValzinhaBarreto)
As discussões sobre gêneros no Brasil, ainda
se configuram como um processo lento, considerando o desenvolvimento escolar
discutido em outros países, o que é preocupante avaliando os índices das
recentes pesquisas nessa área do rendimento escolar, que analisa não apenas
segundo o nível econômico, social e cultural do aluno que afeta seu
desenvolvimento na escola.
Os estudos mais recentes indicam que as
mulheres brasileiras possuem um nível educacional maior que o dos homens, “[...]
os meninos apresentam taxa de reprovação de 57%, enquanto a das meninas era de
42%”. (MEYER, 2010, p. 20). Esses dados referem-se ao aproveitamento dos
meninos e meninas na escola, contudo, conforme aponta Dagmar Meyer (2010,
p.20), sopesando a diversidade cultural destes, a situação é ainda mais
alarmante, pois o risco de reprovação de meninos negros é 3 (três) vezes mais
que o que meninos brancos, logo, a raça representa um fator negativo?
Entende-se que gênero e raça afetam
diretamente o ensino, entretanto talvez o docente possa não perceber esses
empecilhos que afetam o educando e sua influência na aprendizagem e rendimento
escolar.
Talvez os docentes não reflitam o suficiente
sobre como o contexto social, econômico e racial pode contribuir com o baixo
rendimento, assim, cabe destacar que a aquisição de conhecimentos nem sempre é
o fator principal, mas a raça e condição econômica pode representar um
desestabilizador do bom desempenho escolar do educando.
O docente não pode fazer uma reflexão quanto à
aquisição de conhecimentos e /ou desenvolvimento cognitivo, sem entender que o
contexto social do educando, é parte do seu contexto escolar, estes estão
vinculados e em um ou noutro momento apresentam-se como contextos
indissociáveis.
A avaliação
sob o olhar de gênero
Assim sendo, avaliar o rendimento escolar do
aluno, exige reflexões bem mais amplas para que o docente possa avaliar, além
do seu desempenho nas atividades escolares, analisando alguns possíveis fatores
de gênero que poderiam acarretar a um baixo rendimento escolar.
Se existem diferenças entre o nível de
rendimento escolar de meninos e de meninas, o docente poderia pensar essas
diferenças durante a avaliação do educando, uma vez que esta influencia seu aproveitamento
abertamente.
Gênero
e aprendizagem
Conforme tem sido apontado durante discussões
em sala, não há como desvincular o aluno do gênero que possui e sua influencia
na aprendizagem, porém até a abordagem desta disciplina na graduação,
certamente uma avaliação da aprendizagem que considere a diversidade de gênero,
não havia sido pensada com a perspectiva de avaliação com “olhos de gênero”, e
isso se torna ainda mais relevante quando pensamos a aprendizagem do aluno,
conforme Dagmar Meyer (2010, p. 20), enfatiza: “[...] os indivíduos aprendem
desde muito cedo – eu diria que hoje desde o útero”.
A ênfase que autora assinala, refere-se à aprendizagem
como um processo essencial na vida do aluno, certamente todo indivíduo tem
capacidade para aprender.
Conforme o aluno aprende, adquire
comportamentos que possibilitam que ele viva não apenas no espaço escolar, mas
em sociedade, neste caso a aprendizagem representa um “viver melhor” ou “viver
pior” conforme o gênero, assim a aprendizagem configura-se como um elemento
significativo para reflexão dos educadores de meninos e meninas.
O gênero é um elemento tão importante que
meninos e meninas aproveitam as descobertas e experiências de cada um, aliás,
tiram proveito dos erros, acertos e principalmente das técnicas humanas
padrões¹.
Um exemplo do que seria uma técnica humana
padrão, é a prática de “cozinhar em casa” como sendo exclusivamente do sexo
feminino, mas não é, embora tenha sido considerada e ainda seja uma prática
natural da mulher.
A escola e alguns meios educacionais são uma
maneira de fazer com que a aprendizagem necessária para a conivência de meninos
e meninas seja, mais dinâmica porque esses conhecimentos não podem ser
adquiridos de forma natural, sem considerar o gênero, pois são necessários
estudos dirigidos e que considerem essa diversidade, seja racial, social ou
cultural, para que o indivíduo aprenda.
Por exemplo, sobre aprender a somar,
multiplicar, dividir, ouvimos discursos durante campo em estágio
supervisionado, que meninas têm dificuldade com a disciplina de matemática e os
meninos mais facilidade, porém em Língua Portuguesa as meninas tem um
rendimento escolar maior.
Será que durante a avaliação o docente
poderia considerar a dificuldade das meninas enquanto avalia seu desempenho na
disciplina de matemática? Ou o contrário sendo os meninos em Língua portuguesa?
CONCLUSÃO
Ninguém nasce sabendo, mas pode aprender com
o tempo, mas qual o tempo necessário quando se é menino ou menina? Até que
ponto o gênero precisa ser considerado durante avaliação? Os questionamentos
são maiores que as conclusões, porém, as respostas podem surgir com o estudo da
disciplina “Corpo, gênero e sexualidade”
proposto em sala de aula ou pelo menos incitar discussões sobre a temática e
reflexões que possam trazer um olhar de gênero.
Enquanto acadêmica de pedagogia considero
importante fazer uma reflexão sobre como o gênero influencia a aprendizagem e o
rendimento escolar do aluno, neste caso, como ser menina ou ser menina influencia
na realidade na sala de aula.
Os conhecimentos obtidos na disciplina “Corpo,
gênero e sexualidade” podem facilitar as aulas, a escolha dos métodos e
técnicas de ensino, material didático que vai trabalhar nas aulas e caso
necessário fazer uma adaptação do currículo escolar para trabalhar a
diversidade de gênero no espaço escolar.
¹ Voltando ao artigo proposto pela autora Dagmar Meyer (2010, p. 9) intitulado “Mudanças sociais alimentam obesidade” apresentado em sala.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
MEYER,
Dagmar. Gênero e Educação: teoria e
política. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
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