Artigo por Valdineia Barreto (@ValzinhaBarreto).
O filme da Disney “Cinderella”
traz importantes reflexões com respeito à temática “Gênero e diversidade”. No
caso desse filme, embora seja visto como uma história comum traz na protagonista,
chamada pelas irmãs malvadas de “Gata borralheira” uma espécie de arquétipo
fundamental feminino que mostra qual o “tipo de mulher” ou neste caso, como em
muitos contos da Disney, uma jovem em busca de uma vida melhor, de ter seus
sonhos realizados.
Antes mesmo de aparecer no
filme, ainda na narração da história, a personagem é apontada como sendo “Gentil e bondosa”, isso sem falar na
fisionomia, Cinderella é loira, magra, possui olhos azuis e traços delicados,
nariz fino e bem pequeno, tem uma voz linda e é afinada. Os ratinhos do filme
apresentam-na como “amiga e boazinha” reforçando um padrão comportamental, o
padrão de delicadeza.
As vilãs do filme, a
madrasta e irmãs de criação malvadas, usam roupas em tons escuros, possuem uma
voz irritante, são desafinadas, possuem cabelos escuros, olhos enormes e
redondos, traços pouco delicados, nariz grande e circular, como se tivesse
inchado.
Cinderella
cumpre sua função dia-a-dia independente que seja considerado uma possível
indisposição, seu estado psicológico, ela deve incansavelmente: lavar, passar,
cozinhar, dar alimento aos animais, enfim, não há nada, além disso.
Os ratinhos zangados por ela fazer tanto
trabalho, iniciam um musical evidenciando sua posição e possível situação que
poderia justificar que ela trabalhasse tanto:
“Cinderella,
Cinderella noite e dia, faz a sopa, lava louça, passa roupa, pobre moça não
para um só momento, até parece um casamento”
Cinderella
até poderia trabalhar tanto, contudo, desde que fosse para um marido, sua
função no casamento.
O rei deseja que seu filho
de case, pois deseja ver seus netos crescerem, ele diz em certa fala o
seguinte:
“Ele tem que casar e ficar
sossegado”.
O homem deve se casar, a
mulher também, todos devem ter filhos que surjam dessa união. Um homem não pode
escolher ficar sozinho? No caso se tratava de um príncipe, mas se não fosse,
não poderia escapar a regra e ser uma exceção?
Quando o rei decide fazer um
baile para que seu filho conheça alguma moça, já que está fora do tempo, ele
pede ao Duque a mulher ideal:
“Convidem todas as jovens
solteiras para o baile, ela deve ter acima de tudo, bons modos”.
Que bons modos seriam esses?
Para casar com seu filho, devia ser jovem, ter bons modos, mais a frente, ele
desvela com facilidade, qual seria a jovem ideal quando vê que o jovem príncipe
não acha nenhuma que lhe agrade, ele implora para que exista essa jovem, que
segundo seu desejo deva ter um atributo:
“Deve haver pelo menos uma
que possa ser boa mãe”.
A mulher tem obrigação de
ser mãe, mais que isso, boa mãe.
Quando o príncipe encontra a
Cinderella, o rei, mesmo sem conhecê-la ou saber se eles iam mesmo ficar juntos,
presume com grande euforia:
“Sou praticamente avô”.
Dessa forma, entende-se que
logo após o casamento, a segunda função da mulher é ser mãe, logo devem vir
filhos. Não se pode namorar, é necessário casar, e logo após casar, devem vir os
filhos. Esse é o padrão.
O sonho da Cinderella é
mudar de vida e segundo o filme, se alguém está infeliz, deve encontrar um
príncipe e se casar, o sonho dela é ter liberdade, o casamento, e/ou um grande
amor, é a solução para tudo, é tudo que pode sonhar, ter um marido é o futuro de
Cinderella.
O desejo feminino, natural é
ser reconhecida por um homem, somente desta forma, poderá ser especial, logo o
homem atua como se possuísse uma existência superior, tanto que existe outra
espécie apenas para ele.
O filme é uma obra de apelo
popular, Cinderella é pobre, é explorada, é infeliz, o ideal de felicidade está
em encontrar um homem, ter filhos, cuidar dele, da casa e dos filhos. A
felicidade de uma mulher tem que ser sempre em função do homem?
Se uma pessoa é jovem deve
ser casar, o casamento a obrigada a ter filhos, netos, e assim por diante. Esse
é o padrão. A estrutura familiar é apenas dessa forma, não existe outro caminho
além de casar, não há nada lá fora para Cinderella.
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