Por Valdineia Barreto¹
Os discursos das pessoas acabam se tornando um
saber, uma informação ou mesmo um padrão, ou seja, o que as pessoas dizem
muitas vezes se torna um conhecimento que é muito difícil de ser mudado. Algo
muito comum são discursos a partir de hierarquias, ou seja, sempre alguém é
beneficiado, um exemplo é quando as pessoas afirmam que a mulher é o sexo
frágil ou que diante de algumas situações de pressão ou adrenalina agem
diferente dos homens. Será mesmo?
É normal que as pessoas assumam alguns discursos
mesmo sendo falsos, improváveis ou que não faça sentido algum e o reproduzam de
pessoa para pessoa, isso acontece com os educadores, porque deve haver filas de
meninas e meninos? Quem disse que o rosa é de menina e o azul de menino? Será
que se um menino usar rosa será homossexual quando crescer? Uma cor não tem
tanto poder a ponto de mudar a identidade sexual de uma pessoa.
Até que ponto podemos permitir que esses
discursos caminhem lado a lado de nossa prática em sala de aula? Ou até que
ponto esses discursos podem interferir ou não no currículo escolar?
Os discursos fazem com que as pessoas sejam
apontadas, rotuladas ou estereotipadas como “alguém diferente”. Mas porque
existe o “diferente”? O diferente existe porque do outro está o central.
Existem pessoas que fazem parte de um grupo social central e outras pessoas que
fazem parte de um grupo social diferente. As pessoas assumem identidades, de um
lado está a identidade central e do outro a identidade que não é central,
portanto, diferente.
Segundo a sociedade quem faz parte dessa
identidade central são as pessoas brancas e heterossexuais, então quem é
homossexual, negro, indígena é diferente. Um homem que se relaciona com
mulheres é alguém normal de acordo com os discursos da sociedade e um homem que
se relaciona com homens é alguém diferente segundo os discursos.
Quantas vezes não ouvimos o discurso de pessoas
ao saber que uma pessoa se relaciona com homem/homem ou mulher/mulher? Um
exemplo de discurso: “Ele é gay, ela é sapatona, esse mundo está perdido”.
Quantas vezes as pessoas dizem que uma mulher é sapatona porque ainda não
se casou e teve filhos? Segundo o discurso da sociedade e segundo a cultura de
alguns países, o normal é se casar e ter filhos. Mas quem disse que tem que ser
assim? Se uma mulher ou homem não opta por casamento e filhos não significa que
sua identidade sexual deva ser questionada.
Os discursos criam diferenças, pessoas são
marcadas como diferentes, e onde isso começa? Primeiramente na família e depois
na escola porque é o primeiro ambiente de convívio maior que as crianças têm. Lembram
do discurso: “a escola é nossa segunda casa?” Nós educadores precisamos
refletir sobre como o currículo alimenta esses discursos, para ver como nossa
prática é influenciada por esses discursos.
As pessoas que possuem identidade diferente
acabam fortalecendo a identidade central, afinal o branco e heterossexual não
seria central não houvesse pessoas diferentes.
Os discursos sobre essa identidade não está
apenas na casa do vizinho, está na escola, na televisão, nas revistas, no
cinema, nas campanhas de saúde, nos tribunais.
Por exemplo: no cinema o vilão ou o bandido, no
caso do cinema brasileiro, o favelado é negro. Não existem bandidos brancos?
Nas campanhas de saúde vemos uma família com pai e mãe brancos, mas muitas
vezes as famílias possuem uma formação diferente, existem crianças que vivem
com os avós, com os tios, são criados por um casal homossexual, ou nem sempre
são brancos ou loiros como mostram as propagandas da mídia em geral. As
propagandas de cueca e calcinhas são feitos por modelos sarados e nem todo o
publico que irá usar esses produtos vestem tamanho “P” ou “M”.
Diante de alguns discursos as pessoas às vezes
fingem não se importar, fingem tolerar, ou seja, preferem manter uma posição
ingênua, mas não tem a mínina ingenuidade, geralmente as pessoas estão
carregadas de preconceitos e fingem se manter na neutralidade, mas é apenas
aparência.
Até que ponto as pessoas se mantém
neutras? Quando alguma situação envolve alguém próximo, família, amigos, o
discurso muda, é sempre mais fácil manter a pose quanto ao que acontece com o
filho do vizinho.
Como pedagogo, qual o nosso papel? Nosso papel é
respeitar os que possuem identidade central e os que possuem identidade
diferente, é tolerar e não tratar os alunos como se ser diferente fosse errado
ou não tivessem direito de ser como são.
Se não existisse um padrão não existiriam tantas
comparações. Como pedagogos, temos que saber como tratar aquele aluno que é
apontado pelos discursos da sociedade como diferente, como estranho, como
esquisito.
A cultura deve ser respeitada, como mostra o
RCNEI e as Diretrizes Curriculares que garantem princípios de igualdade,
valorização da cultura de cada um, o respeito a identidade, a expressão. O
currículo escolar precisa estar atento as identidades de gênero e de sexo e
esse é o papel do professor, o papel de aceitar esses alunos que, sem culpa são
separados do que é aceitável, do que é comum, do que é central.
COELHO,
Valdineia Barreto. Os discursos da
sociedade e o papel do professor diante do aluno apontado como diferente, estranho
e/ou esquisito. Porto Velho: Universo Pedagogia, 2014. Disponível em: http://www.universopedagogia.com/2014/09/os-discursos-da-sociedade-e-o-papel-do.html
¹Contato com a autora:
Valdineia Barreto –
Pedagoga.
Email: valdineiabarreto@hotmail.com
Twitter: @ValzinhaBarreto
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Whatsapp: 69 9282 99 72
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