Críticas às canções infantis brasileiras

Críticas às canções de ninar brasileiras

Quero deixar claro, antes de tudo que sou totalmente a favor das canções de ninar, acho que as músicas, assim como as histórias contadas antes de dormir são fundamentais, e elas têm um papel relevante no desenvolvimento da criança, na verdade é um marco na vida das crianças e é exatamente aí que mora o perigo. Antes de adotarmos o "boi, boi, boi" como canção de ninar, por exemplo, cabe destacar que uma canção de ninar deveria falar sobre bons sonhos, em descansar para um novo dia de muita diversão, mas "boi, boi, boi" não diz isso, diz? Convenhamos, há uma grande diferença entre desejar bons e doces sonhos e dizer algo como "dorme logo, senão o boi vem te comer" isso não é uma canção de ninar é uma ameaça, sou totalmente a favor da valorização da cultura brasileira, mas acho que deve haver maior conscientização principalmente por parte dos pais e professores sobre isso, uma reforma nas canções de ninar, nas canções de roda, as fábulas auxiliam as crianças em trabalhar seu medo, é o seu primeiro contato com os conhecimentos da existência do bem e do mal. Mas não é cantando uma canção de ninar que incita um bovino de cor negra a pegar uma criança a melhor maneira de trabalhar os seus medos, sei que não. Todos fomos crianças, sabemos o que é ter medo, hoje os meios de comunicação exibem quase tudo de que se precisa ter medo, o esforço não deve ser apenas de preparar a criança pra o mundo, sim ávida é difícil, não é justa, tão pouco conto de fadas, mas as crianças não precisam saber disso antes da hora, chegará o tempo certo para as frustrações, para sentir culpa, para sentir vergonha. Não traumatizemos nossas crianças, nosso esforço deve ser para preservar sua inocência, seu mundo, a imaginação das crianças já é fértil por si só. Já passou da hora de criar outras canções infantis, eu particularmente não acho nem um pouco agradável ameaçar uma criança com um terrível boi toda noite. Que tal "nana neném que a cuca vai pegar..."? Céus... Outra ameaça! Não pode ficar pior?

Não só pode como fica, existem seres mais malignos que um boi preto! Façam uma busca por uma canção infantil do folclore brasileiro que seja positiva, feita essa analise você descobrirá todas as origens dos problemas do Brasil. O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma auto-estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa.

Por que isso acontece? Trauma de infância!

Trauma causado pelas canções da infância.

Vou explicar: Nós somos ameaçados, amedrontados e encaramos tragédias desde o berço! Por isso levamos tanta “pancada” da vida e ficamos quietos.

Exemplificarei minha tese:

"Atirei o pau no gato-to-to

Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu.

Dona Chica-ca-ca admirou-se-se

Do berrô, do berrô que o gato deu Miaaau!"

Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais (pobre gato) e crueldade. Por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de "D.Chica". Uma vergonha!

Porque não “não atirei o pau no gato-to-to, porque eu não sou uma criança má”

Acham que eu to exagerando, generalizando ou sendo injusta?

Observem:

"Eu sou pobre, pobre, pobre, De marré, marré, marré.

Eu sou pobre, pobre, pobre, De marré de si.

Eu sou rica, rica, rica, De marré, marré, marré.

Eu “sou rica, rica, rica, De marré de si.”

Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces! Quê isso, por isso o Brasil é desvalorizado aí pra fora, nem mesmo os próprios brasileiros se orgulham de sua nacionalidade. Com exceção de uma minoria de pessoas, a maioria até diz ou canta: Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor, mas só diz da boca pra fora, tem vergonha, e há do que se envergonhar, infelizmente há.

É impossível não lembrar do seu amiguinho rico da infância com um carrinho cabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico... Fala sério!!!!

"Vem cá, Bitu! Vem cá, Bitu! Vem cá, meu bem, vem cá!

Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!

“Tenho medo de apanhar.”

Quem é o adulto sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bitú.

"Marcha soldado, cabeça de papel!

“Quem não marchar direito, Vai preso pro quartel.”

De novo: ameaça. Ou obedece ou você vai...

Não é a toa que brasileiro admite tudo de cabeça baixa...

"A canoa virou, Foi deixar ela virar,

“Foi por causa da (nome de pessoa) que não soube remar.”

Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar e condenar seu semelhante. Estou revoltada com essa realidade.

"Samba-lelê ta doente,

Ta com a cabeça quebrada.

Samba-lelê precisava

“É de umas boas palmadas.”

A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada, necessita de cuidados médicos, mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Meu Deus que violência?

Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bitu.

As melodias são ótimas, doces, porque as letras não são assim também?

Não há como reescrever as histórias, eu tive acesso a um livro de paródias sobre as canções de roda mais conhecidas no Brasil, e as letras eram doces, falava de amor, respeito, e não de violência, ou ameaças, mas a melodia vinha logo na cabeça, é impossível não associar a melodia à antiga letra, o certo é reescrever novas cantigas, canções de ninar sócio-educativas e não canções traumatizantes cruéis sem fundamentos, esse tipo de cultura não quero transmitir para a geração futura não, desprezo.

Por outro lado sou brasileira e não desisto nunca.

Valdineia Barreto Coelho